terça-feira, 27 de maio de 2008

A emoção da chegada

Net-espectadores, boa tarde!
Fiquei muito aborrecido em não ter conseguido postar de Vitória os emocionantes acontecimentos que vivenciamos no último dia da peregrinação. Peço escusas pelo atraso, porém, para compensar farei uma postagem mais longa e ilustrada.
A rotina de preparação para caminhar estava diferente. Era o último dia de convivência. A melancolia já começava a se instalar nos espíritos, antes eufóricos, dias atrás.
Partimos, pela última vez, da pousada. Cedo, como de costume. O sol recém havia despontado no horizonte e timidamente começava a aquecer a manhã.
Este não seria o dia mais bonito do percurso. Os kilometros de asfalto, que iam sendo vencidos passo a passo por nossas botas e tênis, queriam dar o título a esta postagem.
A aridez do trecho era compensada pelas inúmeras bancas de alimentos.
Voluntários que fazem promessas de fornecer alimentos aos peregrinos por não poderem caminhar.
Pessoas humildes que nos contagiam com sua bondade e, principalmente, com seus sorrisos.
Todas as pessoas pelas quais passávamos nos saudavam: "- Parabéns!"; "-Vocês são heróis"; "-Sejam bem-vindos!". Muitos grupos nos aplaudiam. E eu, contrariado, pensava: - Por que isso? O que eu fiz para merecer todo esse alimento e todas essas homenagens?
Na avenida que dava acesso ao nosso destino, o sub-consciente captou, de um automóvel estacionado, fragmentos de uma música da Legião Urbana que tocava: (...) nada vai conseguir mudar o que ficou (...) e (...) estamos indo de volta pra casa. Essas frases ecoaram em minha mente, durante todo o trecho final.
A medida que nos aproximávamos do santuário a concentração de pessoas e peregrinos aumentava. Já era audível o som dos alto-falantes da ABAPA, saudando aos andarilhos que chegavam à praça. Fogos de artifício pipocavam. Chegamos ao portal do santuário. Iniciávamos a derradeiro aclive, o mais íngrime desde o Convento da Penha. Os sinos tocaram. As lágrimas já brotavam nos olhos. Os pés surrados estavam agora anestesiados pelas intermitentes descargas de adrenalina. Tentei balbuciar uma oração de agradecimento. Já não tinha mais voz. O nó na garganta sufocava. Minhas companheiras Beth e Raquel também silenciaram. Subimos calados e emocionados os últimos metros. Pessoas subiam abraçadas, algumas fazendo preces. Muita gente nos recepcionando. As lágrimas agora alagavam o rosto e turvavam a visão.
Assim que chego à borda do tapete vermelho, como muitos outros peregrinos, me ajoelho em reverência ao Beato Anchieta. Consigo, em meio a soluços, finalmente, fazer uma prece de agradecimento a Deus por ter me dado esta oportunidade e forças para concluir tão linda jornada. Chegamos, enfim!



sábado, 24 de maio de 2008

Dia de pedra

Olá, acompanhantes de jornada, boa noite!
Antes de mais nada gostaria de transmitir algum conhecimento aos leigos que nos dão a honra de acompanhar nossos relatos. Acredito ser importante esclarecer a diferença entre "caminho" e "caminhada". Caminho é uma série de trilhas e estradas (demarcadas, sinalizadas e catalogadas), para ser percorrido em qualquer época do ano. Alguns possuem a sua "coletiva". Já a caminhada, como a que agora participamos é um evento que ocorre anualmente, com organização de alguma empresa ou entidade, apoio governamental, etc.
Isso posto, voltemos às belezas das praias capixabas.
Difícil afirmar qual dos dias foi o mais bonito até aqui. O sol permanece invicto. Nenhuma nuvem se interpôs entre nós.
A maior dificuldade do dia foi a de permanecer caminhando diante da atratividade de tantas praias. Una, Santa Mônica, Três Praias, Praia fonte, Praia das Virtudes, Castanheiras, Praia da Areia Preta, Praia dos Amores.
A transição entre elas sempre feita pelas pedras, porém em nenhum ponto foi necessário o uso das mãos. Muitas surpresas por parte da organização e das comunidades. A proximidade entre os pontos de apoio era tanta que em alguns momentos sequer paramos. Hoje além das frutas uma fábrica de café da região nos proporcionou um café quentinho com biscoito de polvilho!
Apesar da espectativa da Associação Brasileira dos Amigos dos Passos de Anchieta, o número de peregrinos não chegou aos 4000 previstos. No ponto de Setiba, ontem, foram registrados pouco mais de mil andarilhos. Alguns não participaram do trecho de ontem pela sua dificuldade, com o sol e a areia fofa, outros por ser um dia útil. Tivemos informações de que os dias com maior participação são o primeiro e o último (feriado e domingo).
À Rosane, uma de nossas fiéis leitoras e andarilha do Grupo Pegadas, peço desculpas pela ausência da foto oficial, até o momento. Ela existe, porém está em outra máquina. Espero, nos dias próximos estar em condições de postá-la.
Finalmente, após passarmos por mais de 35 praias, nos últimos dias, tivemos a oportunidade de tomar o primeiro banho de mar, que, a propósito, estava ótimo, como esta caminhada.
Entramos agora nos piores momentos: os últimos do caminho. Amanhã não haverá tempo para despedidas. A família se desfaz. Aqueles problemas que havíamos congelados na quarta-feira já são tirados do freezer para na segunda-feira estarem fresquinhos, à nossa espera.
Descubro, a cada peregrinação, que quando se está andando o mais importante não é chegar, é estar no caminho.
Grande abraço.
Keep walking...

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Dia de areia

Olá peregrinos virtuais. É uma grande satisfação postar estas novas impressões de mais um ótimo dia de caminhada.

Além da preocupação dos organizadores em prover água, frutas, café com leite, água de côco, etc, é preciso destacar o envolvimento das comunidades ao longo do caminho. Hoje, o dia mais difícil da peregrinação foi ímpar neste sentido. Houve tantos postos de abastecimento de água e alimentos (frutas, cachorro-quente, iogurte, biscoito, etc), que o cantil e o lanche de trilha foi algo totalmente dispensável.

O trecho de hoje, entre a Barra do Jucu e Setiba era de 28 kilometros, 18 dos quais pela praia. A Reserva Paulo Vinhas é o ponto mais difícil pois há poucos recursos em caso de emergência. A administração da reserva disponibilizou pessoal e três postos de abastecimento de água, que minimizou os riscos de problemas.
As sete horas de caminhada de hoje não deixaram seqüelas. Passamos da metade do caminho.
Atenuei meu lado engenheiro e desta vez não trouxe o GPS. No entanto, desta feita, trouxe o monitor cardíaco e, com muita satisfação, pude observar que foram consumidas mais de 1000kcal por dia. Não é possível afirmar que o balanço seja negativo devido à grande ingestão de alimentos, mas a meu ver é satisfatório.


Já próximo do destino do dia, chegamos à Lagoa
dos Caraís, ponto muito pitoresco do litoral capixaba. De coloração extremamente escura, tem grande concentração de lanolina e faz grande contraste de cores com as cercanias.
Amanhã teremos um trecho mais ameno, passando pelo litoral da badalada Guarapari, lotada neste feriado.

Aguardo sua visita (e comentário).

Grande abraço, direto do Espírito Santo (Amém)







quinta-feira, 22 de maio de 2008

É chegado o dia!

E finalmente amanhece. Seis horas e o salão do café já tem um movimento razoável. A ansiedade que mencionei há alguns dias não é exclusividade minha. Pessoas de todas as idades, alturas, pesos, homens e mulheres de todo o Brasil com um objetivo comum: ratificar que os seres humanos são criaturas eminentemente caminhantes.
Cumprimentos entusiásticos entre os presentes, chistes, risos, é como uma reunião de família.
De volta aos aposentos, o ritual de equipar-se. Cada um com o seu. Momento importante. É a hora de pôr em prática todo o know how desenvolvido (muitas vezes às custas de algum sofrimento) em tantos outros kilometros de caminhadas. Uma simples dobra na meia pode causar a bolha que te impedirá de caminhar no dia seguinte, ou, pelo menos, tornará a jornada muito mais penosa. "- Não esqueça isso"; "- Não esqueça aquilo, "- Você vai levar esse negócio, pra quê?"; etc. E já estamos prontos para rumarmos à praça da catedral.
O dia está luminoso como previsto. O frescor da manhã anima a todos.
Nas últimas horas se juntaram ao grupo mais duas companheiras veteranas em caminhadas: Christine e Solange. Para evitar atropelos, procuramos e conseguimos, ainda na noite de ontem, pegar o "passaporte do peregrino" - prova física de nossa jornada espiritual.
Já na praça lotada, uma celebração ecumênica bastante simples, mas carregada de emoção. A bênção aos peregrinos, o coro, as músicas, o pai-nosso de mãos dadas, a ambiente, tudo muito comovente.
Dada a saída. Os primeiros passos de mais uma longa jornada.
O sol acordou conosco e foi companheiro. Presente em todos os momentos, generosamente nos forneceu iluminação adequada para belas fotos.
Primeira parada - Convento da Penha, em Vila Velha. Abastecimento dos cantis. Boa oportunidade tivemos para observar os micos (foto) em diversos pontos da descida do morro. Muito simpáticos, como os outros habitantes, permitiram ser fotografados e filmados à exaustão.
Ao chegamos ao nivel do mar. Durante, aproximadamente 2 horas, caminhamos à beira mar, como previsto. Feriado, praia cheia. Beldades circulando por toda parte, dezenas de quiosques convidativos. Garrafas e garrafas de cervejas sendo esvaziadas. Porém o objetivo hoje não é nenhum desses. Nada pode nos desviar do caminho. Parada só para água-de-côco e sorvete (em pé, inclusive).
Entramos em um parque estadual (que ninguém soube informar o nome, até o presente momento) para um trecho bastante árido.
A chegada à Barra do Jucu foi inesperada. Após os 24km iniciais, massoterapeutas do SESC recebiam, com muita gentileza, os andarilhos. Definitivamente uma peregrinação de burguês!
O trecho de amanhã será pela areia fofa. Espero chegar nas mesmas condições de hoje, disposto e com mais histórias para contar.
Saudações peregrinas!


quarta-feira, 21 de maio de 2008

Vitória

O melhor da caminhada já começou: o contato com os peregrinos. Pessoas de Minas, Goiás, São Paulo, Rio Grande do Norte (Natal) e outros estados já estão em solo capixaba à espera da partida.
Incrível é o fato de muitos nativos desconhecerem o caminho! Alguns que o conhecem o rotulam de "uma bobagem" ou "não existe isso", inclusive. Viemos dos quatro cantos do Brasil para divulgar, entre os capixabas, os Passos de Anchieta.
Ao lado a foto da linda catedral em estilo gótico, lugar comum entre as fotos de turistas. Praticamente o cartão postal da cidade.
A confraternização entre peregrinos é um dos melhores motivos de se fazer um caminho.
Além dos companheiros de Curitiba (Beth, Carlos, Viviane, Gisele, Sara, Raquel, Isabel, Leda, Maria José e Anuty) que já estão aqui (além deste autor), começamos a nos encontramos com andarilhos irmãos de outros caminhos, principalmente da Caminhada da Paz. É tudo uma grande festa.
Já estivemos no ponto de partida (foto).
Amanhã, daremos os primeiros passos com destino a Anchieta.

Grande abraço





terça-feira, 20 de maio de 2008

Peregrinação Burguesa

Última postagem em solo paranaense. Amanhã, se Deus quiser, já estaremos respirando "ares capixabas".
Esta é a maior caminhada coletiva do Brasil. Espera-se para este ano 4.000 peregrinos. Dado que nos deixou apreensivos visto que, por maior que seja a boa-vontade dos organizadores e da população local, é previsível que haja algum tumulto para a alimentação, banho e hospedagem desse povo todo.
Mas com a ajuda da nossa rede de amigos andarilhos conseguimos encontrar uma alternativa para minimizar nosso desconforto. Nos foi indicada uma pousada, em Guarapari, próximo à metade do caminho, que além de nos hospedar todas as noites, fará o serviço de leva-e-trás em cada uma das paradas. Naturalmente que teremos que caminhar os 100km e carimbar a credencial em cada um dos pontos previstos, porém sem os 6 ou 7 kg da mochila nas costas!
Como diria nosso amigo peregrino Marcelo Aragão: PEREGRINAÇÃO DE BURGUÊS!
Até Vitória, pessoal!

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Ansiedade


Levanto cedo, a tempo de testemunhar o fascinante adeus da lua, quase cheia, ampliada e amarelada pela proximidade com o horizonte. A luminosidade perfeita, que não fere os olhos, nos permite ver com incrível nitidez seu contorno, seus vales e crateras.
Enquanto preparo o desjejum, no horizonte oposto, a claridade do novo dia vai diminuindo o brilho das estrelas, até sobrepujá-lo. Tomo o suco de laranja, assistindo aos primeiros raios do sol rasgando os céus e extinguindo por completo as trevas da noite. Respiro fundo. Me encho com o ar puro e fresco desta manhã de outono. Nasce mais um lindo dia.
Faltando menos de 72 horas para iniciarmos os Passos de Anchieta, já me sinto na estrada. Coloco no freezer primeiro os alimentos perecíveis da geladeira, e depois, nossos companheiros fiéis do dia-a-dia: os chamados “problemas”. Problemas que, como as estrelas perante o sol, desaparecem nas curvas do caminho face à grandiosidade da natureza.
Com o espírito nômade agitado, ansioso, vislumbro mais uma página em branco da vida, aguardando para ser escrita. Um parêntesis que pode ser mais interessante que o texto. Livre da matéria, das coisas mundanas e com a alma pura. Pura como a liberdade plena que estamos a algumas horas de experimentar.

Até a próxima.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Objetivo deste blog

Desde que concluí a peregrinação no Caminho da Fé, consequentemente esgotando o assunto do outro blog que fiz (http://aimarnocaminhodafe.blogspot.com), um grande vazio surgiu. As postagens diárias disciplinavam meus dias, balizavam os temas das fotos, acuravam o interesse por assuntos do caminho. Era importante buscar "matérias" para serem publicadas e evitar que a monotonia se instalasse no meu primeiro blog. A responsabilidade aumentava a cada comentário novo pois eu percebia a grande quantidade de amigos que estavam comigo. Até hoje encontro com pessoas que acompanharam em silêncio àquela aventura.
Surgiu então a idéia de um novo blog. O título já veio junto com a idéia. Faltava só a faísca, o empurrão, o start. Outras atividades que poderiam ser chamadas de aventuras foram se sucedendo desde o final do Caminho da Fé, mas nenhuma tinha uma "aura de aventura" suficiente para arcar com o peso de ser a primeira do novo blog. Acabaram ficando (por enquanto) de fora (a Caminhada da Paz, a Volta da Pampulha, a 83a. São Silvestre, o Canyon do Guartelá, o rafting no rio Tibagi, a Ilha do Cardoso, etc.
Finalmente é chegada a hora: "PASSOS DE ANCHIETA" - caminhada coletiva.
Abração a todos